Resolução de Problemas

“A matemática, quando vivida, não é apenas um conjunto de números e fórmulas — é uma maneira de compreender o mundo, questionar e transformar a realidade.”

A matemática escolar muitas vezes é vista como uma sequência de exercícios mecânicos, repetitivos, onde o aluno precisa apenas memorizar e reproduzir regras. Porém, seu verdadeiro valor está em algo mais profundo: a resolução de problemas. É nesse espaço que a curiosidade se encontra com o raciocínio, que a teoria se conecta à prática e que o aprendizado se torna significativo.


📍 O que é “resolver problemas” na matemática escolar?

Resolver problemas vai muito além de aplicar fórmulas prontas. É um processo ativo em que o estudante:

  • Compreende a situação proposta.
  • Planeja estratégias para solucioná-la.
  • Executa o plano, testando hipóteses.
  • Reflete sobre o resultado, avaliando se faz sentido.
  • Comunica o raciocínio, seja por escrito, seja oralmente.

Esse processo envolve mais do que “acertar a conta”; trata-se de pensar, argumentar e criar conexões.


✏️ Problemas mecânicos x problemas significativos

Podemos diferenciar dois tipos de problemas frequentemente encontrados na sala de aula:

TipoCaracterísticasExemplo
MecânicoRequer aplicação direta de um algoritmo ou fórmula, sem interpretação mais profunda.“Calcule 25 × 38.”
SignificativoExige análise, compreensão do contexto, tomada de decisão e flexibilidade na estratégia.“Um agricultor planta 25 linhas de milho com 38 pés cada. Se cada pé produzir 3 espigas, quantas espigas terá a colheita?”

Enquanto o problema mecânico treina habilidades específicas, o problema significativo desenvolve pensamento crítico, raciocínio lógico e criatividade.


🎯 A resolução de problemas como eixo da aprendizagem

Na matemática escolar, a resolução de problemas deve ser o centro, não um complemento. Isso porque:

  1. Promove aprendizagem ativa — o estudante constrói o conhecimento, não apenas o recebe.
  2. Desenvolve autonomia — o aluno aprende a buscar estratégias próprias.
  3. Integra conceitos — conecta diferentes áreas da matemática em uma mesma situação.
  4. Valoriza o erro — cada tentativa mal-sucedida é uma oportunidade de aprendizagem.
  5. Forma cidadãos críticos — o raciocínio lógico é transferível para outras áreas da vida.

💡 O papel do professor

O professor não é apenas quem “ensina a fazer contas”, mas o mediador de experiências que estimulam o raciocínio.
Ele:

  • Cria situações desafiadoras, mas acessíveis.
  • Estimula a curiosidade com perguntas abertas.
  • Oferece apoio quando o aluno está travado, sem dar a solução de imediato.
  • Valoriza diferentes caminhos para a mesma resposta.

🧠 O ciclo da resolução de problemas

Podemos pensar o processo em quatro etapas interligadas:

  1. Compreender o problema
    • Ler e reler o enunciado.
    • Identificar o que é dado e o que é pedido.
    • Reconhecer palavras-chave.
  2. Planejar
    • Decidir que ferramentas matemáticas podem ser usadas.
    • Escolher estratégias (desenho, tabela, tentativa e erro, cálculo mental, etc.).
  3. Executar
    • Colocar o plano em prática.
    • Verificar se cada passo faz sentido.
  4. Revisar
    • Conferir o resultado.
    • Pensar se há outra forma de resolver.
    • Relacionar o problema com outros já resolvidos.

🌍 Conexão com a realidade

Uma matemática que vive apenas dentro do livro perde força.
Por isso, problemas contextualizados, que se conectam à vida dos estudantes, são essenciais. Exemplos:

  • Calcular o custo de um evento escolar.
  • Planejar a quantidade de tinta para pintar uma parede.
  • Estimar o tempo necessário para economizar e comprar algo.

Essas situações mostram ao estudante que a matemática é ferramenta de transformação do cotidiano.


📊 Estruturas de apoio: estratégias para ensinar a resolver problemas

1. Perguntas que instigam o pensamento

  • “O que você já sabe sobre isso?”
  • “Qual seria um jeito possível de começar?”
  • “O que aconteceria se…?”

2. Trabalhar em pares ou grupos

  • O diálogo entre alunos amplia perspectivas.
  • Um explica para o outro, reforçando o entendimento.

3. Representações múltiplas

  • Desenhos, diagramas, esquemas, tabelas.
  • Mais de um formato para visualizar o problema.

4. Valorização do processo

  • O caminho é tão importante quanto o resultado final.

📚 Exemplo de sequência didática

Tema: Frações no contexto da culinária

Situação-problema:
Uma receita pede 3/4 de xícara de açúcar. Você quer fazer apenas metade da receita. Quanto açúcar será necessário?

Etapas do trabalho em sala:

  1. Compreensão — discutir o que significa “metade de 3/4”.
  2. Planejamento — pensar como representar a fração.
  3. Execução — realizar cálculos e representar graficamente.
  4. Revisão — comparar com outras estratégias.

Essa prática integra conceito e vida real, tornando o aprendizado memorável.


🔄 Erro como oportunidade

Na resolução de problemas, o erro não é fracasso — é parte do caminho.
Quando um aluno erra:

  • Ele mostra como está pensando.
  • Dá pistas ao professor sobre suas dificuldades.
  • Abre espaço para novas discussões.

Tratar o erro com naturalidade cria um ambiente de segurança, onde todos se sentem à vontade para tentar.


📈 Benefícios a longo prazo

Estudos mostram que alunos expostos constantemente a desafios de resolução de problemas:

  • Desenvolvem maior persistência diante de dificuldades.
  • Aprendem a adaptar estratégias.
  • Melhoram sua comunicação matemática.
  • Usam a matemática de forma mais funcional e criativa.

🚀 Exemplos práticos para inserir no dia a dia escolar

Problema matemático com contexto histórico:
“Se uma caravana medieval percorria 25 km por dia e a viagem durava 18 dias, qual era a distância total percorrida?”

Problema com contexto ambiental:
“Uma torneira pingando desperdiça 40 gotas por minuto. Em um dia, quantos litros de água são desperdiçados? Considere que 1.000 gotas = 50 ml.”

Esses exemplos mostram a matemática como ferramenta para entender e melhorar o mundo.


💬 Conclusão: a matemática que pulsa

Quando colocamos a resolução de problemas no centro do ensino, a matemática deixa de ser um conjunto de páginas para virar uma experiência viva.
Os alunos não apenas aprendem a somar ou multiplicar — eles aprendem a pensar, argumentar, criar e questionar.
Essa matemática é humana, transformadora e necessária para formar cidadãos ativos, conscientes e preparados para os desafios do futuro.

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