
Imagine um pedaço de pizza dividido entre amigos. Ou um copo d’água pela metade. Ou ainda, o tempo que falta para o recreio acabar: 5 minutos de 15. Esses momentos do cotidiano, simples e corriqueiros, estão profundamente conectados a um conceito que, muitas vezes, parece assustador aos olhos dos estudantes: as frações.
Este artigo tem como objetivo aproximar as crianças do 6º ano da compreensão das frações não apenas como números com “dois andares”, mas como expressões de situações reais, como representações de parte de um todo e, mais adiante, como números que também operam, se somam, se multiplicam e se transformam.
A jornada que faremos é uma travessia de descobertas, onde cada etapa busca dialogar com o saber que os alunos já têm, valorizando sua experiência, linguagem e realidade — porque ensinar frações não é apenas ensinar a resolver contas, mas desenvolver a capacidade de ver o mundo com mais clareza.
1. O Que É Uma Fração?
Antes de apresentar definições prontas, devemos partir do que o aluno vê e sente. Uma fração é, em essência, uma parte de um todo. Esse “todo” pode ser uma barra de chocolate, um grupo de pessoas ou um intervalo de tempo.
Exemplo:
Se uma pizza foi cortada em 8 fatias iguais e você comeu 3, podemos dizer que você comeu 3/8 da pizza.
Importante:
- O número de cima (numerador) indica quantas partes foram tomadas.
- O número de baixo (denominador) mostra em quantas partes o todo foi dividido.
Diálogo com os alunos:
Você já dividiu algo com alguém? Como ficou essa divisão? Foi justa? Foi igual? Ao propor essas perguntas, incentivamos o pensamento reflexivo.
2. Frações e Suas Representações
a. Representação pictórica (visual)
A imagem é uma ponte entre o concreto e o abstrato. Antes de operar com frações, o aluno precisa ver frações. Usar círculos, barras, figuras geométricas e objetos concretos facilita a interiorização do conceito.
Atividades sugeridas:
- Pintar 1/4 de um quadrado.
- Recortar papéis coloridos em 6 partes e destacar 2 delas.
b. Representação numérica
Após a representação visual, é essencial conectar à notação simbólica: 1/2, 3/5, 4/8.
Mas sempre com significado.
Questão crítica:
Se 4/8 e 1/2 representam a mesma quantidade, por que se escrevem de maneira diferente? Essa é a introdução ideal para o conceito de frações equivalentes.
3. Frações Equivalentes: Diferentes Formas de Ver o Mesmo
Frações equivalentes são frações que representam a mesma parte do todo, mesmo que tenham numeradores e denominadores diferentes.
Exemplo visual:
Desenhe duas barras do mesmo tamanho:
- Divida uma em 2 partes e pinte 1 (1/2).
- Divida a outra em 4 partes e pinte 2 (2/4).
- Compare. São iguais!
Estratégias pedagógicas:
- Utilizar dobraduras de papel.
- Recorrer à simplificação e ampliação.
- Incentivar o questionamento: “Como posso provar que duas frações são equivalentes?”
Exercício de empoderamento:
Apresente várias frações e pergunte: quais são iguais? Como você sabe?
Essa estratégia coloca o aluno como sujeito da descoberta, e não como alguém que apenas recebe regras.
4. Comparando Frações: Qual é Maior?
Comparar frações exige sensibilidade e método. Algumas estratégias:
a. Mesmo denominador
Mais direto: compare os numeradores.
Exemplo:
3/8 é menor que 5/8
b. Mesmo numerador
Quem tem o denominador menor representa uma parte maior.
Exemplo:
2/3 é maior que 2/5
c. Frações diferentes
Aqui, entram duas boas estratégias:
- Transformar para mesmo denominador.
- Usar a régua numérica.
Régua numérica como recurso visual:
Permite ao aluno “ver” onde a fração está. Ajuda no conceito de ordem.
5. Frações na Linha do Tempo: Um Número Entre Outros
Uma das grandes conquistas do 6º ano é entender que frações também são números. Isso significa que elas:
- Têm posição na reta numérica.
- São maiores ou menores que outros números.
- Podem se somar, subtrair, multiplicar e dividir.
Ao colocar as frações na reta, o aluno se depara com um novo universo: entre o 0 e o 1 existem infinitos números — e todos eles têm algo a dizer.
6. Soma e Subtração de Frações
a. Com denominadores iguais
Soma-se ou subtrai-se os numeradores.
Exemplo:
3/10 + 4/10 = 7/10
b. Com denominadores diferentes
Exige adaptação. Uma forma é encontrar o mínimo múltiplo comum (MMC) dos denominadores.
Exemplo:
1/4 + 1/6
MMC de 4 e 6 = 12
1/4 = 3/12
1/6 = 2/12
3/12 + 2/12 = 5/12
Atividade pedagógica:
Traga contextos reais:
- Receitas de culinária.
- Divisão de tempo em atividades diárias.
Isso mostra que as frações vivem entre nós.
7. Multiplicação de Frações
Multiplicar frações é como cortar uma parte da parte.
Regra:
Multiplica-se numerador com numerador, denominador com denominador.
Exemplo:
2/3 × 3/5 = (2×3)/(3×5) = 6/15 → 2/5 (após simplificar)
Estratégias:
- Usar contextos de área (retângulos divididos).
- Trabalhar com situações como: “Você comeu 2/3 de uma barra e depois, metade disso. Quanto comeu no total?”
8. Divisão de Frações
Este talvez seja o conceito mais abstrato — mas não menos importante.
Exemplo:
(1/2) ÷ (1/4) = ?
Explicação concreta:
Quantos quartos cabem em uma metade?
Resposta: 2
Logo, (1/2) ÷ (1/4) = 2
Regra prática:
Multiplica-se pela fração inversa.
1/2 ÷ 1/4 = 1/2 × 4/1 = 4/2 = 2
Importante:
Dar sentido ao porquê disso! Trabalhar com modelos e metáforas facilita a compreensão.
9. Erros Comuns: Oportunidades de Aprendizagem
Ao invés de punir erros, é preciso acolhê-los como oportunidades.
Erros frequentes:
- Somar numeradores e denominadores.
- Não simplificar resultados.
- Confundir quando fração é maior ou menor que 1.
Reflexão pedagógica:
Que tal pedir aos alunos para corrigir frações erradas explicando onde está o erro? Isso desenvolve autonomia e espírito crítico.
10. Frações no Cotidiano
A matemática só ganha sentido quando se revela no mundo real. Proporcione experiências em que os alunos possam:
- Medir ingredientes.
- Dividir jogos e tarefas.
- Planejar horários.
- Criar enquetes e trabalhar com porcentagens, como forma de fração.
Frações estão no tempo, na música, nas artes, nas finanças, nos esportes.
Conclusão: Ensinar Frações É Ensinar a Pensar
Aprender frações é mais do que aprender um conteúdo: é desenvolver a capacidade de olhar para o mundo com discernimento. Ao compreender que um número pode representar parte de algo, o aluno também aprende que a realidade é feita de nuances — de metades, de incompletudes, de aproximações.
Educar para as frações é educar para a justiça, para a igualdade, para o diálogo. É mostrar que cada parte importa. Que ninguém é menor por representar “menos”. E que, quando somamos as partes, criamos o todo.
Que essa jornada de descoberta continue em cada sala de aula, como um diálogo vivo entre o saber e o ser.
Palavras-chave para educadores:
- Concretude
- Significado
- Visualidade
- Diálogo
- Autonomia
- Realidade
- Crítica
- Prática social