Danças Folclóricas

A dança, expressão ancestral do ser humano, é uma linguagem do corpo que atravessa séculos, fronteiras e ideologias. No contexto educacional, ela deixa de ser apenas uma manifestação artística para se tornar uma potente ferramenta de construção de identidade, consciência crítica e valorização cultural. As danças folclóricas, nesse cenário, desempenham um papel fundamental.

A Dança Como Linguagem Corporal na Escola

Desde os primeiros anos da infância, o corpo é um instrumento de aprendizado. Ele aprende antes de falar, antes de escrever, antes de calcular. Ele sente, reage, observa, imita. Por isso, incluir práticas corporais como a dança nas escolas é respeitar a integralidade do sujeito em formação.

As danças folclóricas possibilitam às crianças e jovens um mergulho em suas raízes, estimulando a percepção de pertencimento, o respeito à diversidade e o fortalecimento da identidade cultural. Por meio do movimento, o educando se vê parte de uma história viva, que pulsa em cada passo, em cada gesto, em cada ritmo.

O Que São Danças Folclóricas?

As danças folclóricas são manifestações populares que expressam os costumes, crenças e tradições de um povo. São passadas de geração em geração, muitas vezes sem registros escritos, mas carregadas de significados profundos. São danças feitas em rodas, fileiras, pares ou grupos, que narram o cotidiano, os ciclos da natureza, a fé, o amor, o trabalho, a luta.

Cada povo dança sua existência.

🎭 Exemplos de Danças Folclóricas Brasileiras

RegiãoDançaCaracterísticas principais
NorteCarimbóRítmica, sensual, com influência indígena e africana
NordesteFrevo, Maracatu, BaiãoColoridas, vibrantes, ligadas ao Carnaval e religiosidade
Centro-OesteSiriri, CururuLigadas ao pantanal, com viola e pandeiro
SudesteJongo, Catira, FandangoEnvolvem palmas, sapateado, canto responsorial
SulDanças Gaúchas, ChulaForte influência europeia, com roupas tradicionais

Essas danças não são apenas entretenimento. São símbolos vivos de resistência cultural, memória coletiva e expressão de comunidades.


A Escola como Espaço de Cultura Viva

A escola, enquanto espaço de formação integral, não pode se restringir à transmissão de conteúdos frios e descontextualizados. É preciso formar sujeitos críticos, autônomos, conscientes de sua história e de seu lugar no mundo. As danças folclóricas permitem esse mergulho sensível e concreto na realidade social dos estudantes.

Incluir a dança folclórica no currículo:

  • 🧠 Estimula a cognição corporal
  • ❤️ Desenvolve empatia e respeito
  • 🎨 Promove a valorização das manifestações artísticas populares
  • 🌍 Rompe com visões eurocêntricas e hegemônicas da cultura

👣 Corpo como Texto

O corpo, ao dançar, narra histórias. Ele escreve no espaço. Ele se posiciona, se expressa, se comunica. A educação que valoriza o corpo como sujeito e não apenas como objeto, cria condições para que o estudante perceba-se como agente de transformação.

Por isso, nas práticas pedagógicas, é essencial que o educador incentive os alunos a investigarem as danças presentes em sua comunidade, em sua família, em sua história. Que pesquisem, entrevistem, aprendam, recriem. Que o saber seja construído com o chão da vida, e não apenas com o giz da lousa.


Danças Folclóricas e Identidade

A identidade cultural é um processo contínuo de construção. Ao aprender uma dança tradicional de sua região, o estudante se reconhece em um grupo. Ele compreende que faz parte de algo maior. Que seu corpo carrega a memória de seus ancestrais. Que sua cultura não está nos livros, mas na vida.

Dançar o frevo em Pernambuco, o jongo em Minas, o carimbó no Pará, não é apenas aprender passos. É resgatar vozes silenciadas, é ouvir histórias que nunca chegaram à sala de aula, é legitimar saberes populares e romper com o preconceito.


A Prática Pedagógica com Danças Folclóricas

Como então trabalhar as danças folclóricas de forma crítica e transformadora na escola?

Sugestões de Atividades

Etapa EscolarAtividade PropostaObjetivos Desenvolvidos
Educação InfantilRoda de ciranda com instrumentos simples (chocalho, tambor)Coordenação, ritmo, socialização
Anos IniciaisPesquisa sobre danças da comunidadeLeitura, oralidade, pertencimento
Anos FinaisCriação de coreografia com base em danças folclóricasCriatividade, expressão, valorização da cultura local
Ensino MédioEstudo crítico sobre apropriação cultural e identidadeConsciência social, análise crítica, ética

Essas atividades devem sempre partir da realidade do estudante, respeitando sua história e promovendo o diálogo entre culturas.


Interdisciplinaridade: A Dança Que Une Saberes

As danças folclóricas permitem múltiplas conexões com diversas áreas do conhecimento:

  • História: entender os contextos sociais das danças
  • Geografia: conhecer as regiões e seus elementos culturais
  • Educação Física: trabalhar ritmo, coordenação, lateralidade
  • Arte: estudar figurinos, músicas, formas de expressão
  • Português: explorar letras, narrativas orais e poesias populares
  • Filosofia/Sociologia: refletir sobre identidade, cultura e pertencimento

Com isso, a escola deixa de ser um compartimento de disciplinas e passa a ser um espaço de construção integrada do saber.


Resistência e Reexistência Cultural

Em tempos de globalização e homogeneização cultural, dançar o que é nosso torna-se ato político. Ensinar e aprender danças folclóricas é dizer: “nossa história importa, nossa cultura resiste, nosso corpo tem voz”.

É garantir espaço para o saber que nasce nas feiras, nas festas, nos terreiros, nos quilombos, nas aldeias, nas praças. É legitimar um conhecimento que por muito tempo foi invisibilizado pela educação tradicional.


Desafios e Possibilidades

Sim, há desafios: falta de formação de professores, preconceito com manifestações populares, ausência de materiais didáticos adequados. Mas há também muitas possibilidades.

💡 Soluções possíveis:

  • Formações continuadas sobre cultura popular
  • Parcerias com mestres da cultura local
  • Oficinas e festivais internos de danças folclóricas
  • Criação de acervos comunitários de saberes populares

A escola não precisa ser um reprodutor de cartilhas: pode (e deve!) ser criadora de encontros culturais.


Conclusão: Educar com o Corpo, para o Mundo

Educar por meio da dança folclórica é romper com a lógica do silêncio e da homogeneidade. É permitir que o estudante viva, experimente, sinta, questione, transforme. É fazer da sala de aula uma roda de ciranda, onde ninguém dança sozinho, e todos constroem o conhecimento com os pés no chão da sua cultura.

Dançar é também ensinar. E aprender a dançar sua história pode ser o primeiro passo para transformar o mundo.

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