O Naturalismo, movimento literário que começou na Europa com a publicação do livro Germinal de Émile Zola, chegou ao Brasil no final do século XIX. Naquela época, nossos escritores, influenciados por escritores europeus, começaram a considerar a literatura como um instrumento de denúncia social, não apenas como entretenimento para a classe média e a elite brasileira.
O Naturalismo no Brasil emerge na segunda metade do século XIX em termos de convivência com o realismo como forma de reação ao ideal imposto pela escola anterior – o romance. Em vez de uma perspectiva subjetivista e escapista, como representada na literatura romântica, emerge um conceito objetivista e científico que pretende narrar fielmente os males de um mundo real não mais superordenado.
O principal representante do naturalismo no Brasil foi o maranhense Aluísio Azevedo. Em seu trabalho máximo, O Cortiço, Aluísio resumiu todos os ideais naturalistas, mostrando como a influência do médium e o poder dos instintos determinam o comportamento dos personagens. Em outros trabalhos do autor, como O Mulato e a Casa de Pensão, observa-se como o fatalismo das forças sociais e naturais afeta o homem para validar as teorias científicas que regem o pensamento filosófico através da literatura em todo o mundo.
Em 1881, Aluísio Azevedo lançou o romance O Mulato, que representou o início do período naturalista no Brasil. Esta época foi marcada por avanços científicos e tecnológicos em todo o mundo. Por exemplo, na segunda metade do século, Graham Bell registra a patente do telefone e Thomas Edison descobre a lâmpada.
A literatura científica construiu sua ficção considerando o homem como um objeto a ser estudado cientificamente, abandonando qualquer remanescente da literatura romântica. Não há espaço para metáforas ou subjetividade: a realidade é retratada como é, e a linguagem se aproxima da simplicidade do vernáculo para que o leitor tente compreender as descrições feitas pelo narrador. O romancista assume uma postura de desinteresse, de impessoalidade, que introduz na literatura temas relacionados ao homem, incluindo aqueles que são considerados repugnantes e que nunca foram tratados na história da literatura brasileira.
O Brasil viu uma classe média burguesa e urbana mergulhando em uma terra de decadência econômica, desenvolvendo gradualmente ideais liberais, abolicionistas e republicanos. Não admira que, menos de uma década depois, em 1888 e 1889, tenha ocorrido a abolição da escravatura e a proclamação da república.
Tais ideais, inspirados por uma elite intelectual que sabia o que estava acontecendo no Brasil e na Europa, foram cruciais para delinear as características da prosa naturalista.
Quais são as Principais Características do Naturalismo?
Determinismo: O homem está sujeito às leis de “causa e consequência”, isto é, ele está determinado a viver sob os mandamentos de seu destino e seu ambiente.
Zoomorfismo: Abordagem dos seres humanos às características dos animais, ou seja, os seres humanos são animais que agem de acordo com seus instintos.
Positivismo: O conhecimento científico é o único verdadeiro e aceitável.
Evolucionismo: Os seres humanos sobrevivem e se adaptam ao seu ambiente de acordo com sua seleção natural.
Objetivismo e impessoalidade: linguagem científica precisa, focada na narração de fatos e livre de demandas subjetivas.
Retrato dos marginalizados: A população marginalizada é retratada – negros, prostitutas, homossexuais, etc.
Linguagem oral e vida real: a linguagem se torna mais popular e a vida real é descrita de forma confiável – cenas de sexo, assassinato e relacionamentos homoafetivos formam as obras naturalistas.
Quais são os Principais Autores e Obras do Naturalismo no Brasil?
Naturalistas brasileiros foram influenciados por escritores europeus como Émile Zola (França) e Eça de Queiroz (Portugal). Os nomes mais famosos incluem Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, Inglês de Sousa e Raul Pompeia.
É importante notar que é possível perceber características realistas nos trabalhos desses autores, uma vez que o naturalismo é considerado um ramo que coexiste com o realismo.
Quais são as Principais Obras do Naturalismo no Brasil?
Alguns trabalhos são importantes para perceber as características naturalistas mencionadas acima. Esses incluem:
O Cortiço – Aluísio Azevedo (1890)
O livro mostra a realidade das pessoas que vivem em um cortiço no Rio de Janeiro. Desta forma, o foco narrativo se move entre diferentes personagens (João Romão, Bertoleza, Estela, Rita Baiana, Pombinha …) e mostra como suas vidas são determinadas pelo grande protagonista: a própria favela.
A narrativa é baseada em descrições detalhadas e objetivas e é tematicamente focada em traição, prostituição, miséria e alcoolismo.
Bom-Crioulo – Adolfo Caminha (1895)
Bom-Crioulo é considerado um dos primeiros romances retratando a homossexualidade do Brasil. É sobre o amor entre Amaro, um dos escravos aceitos navais, e Aleixo, um jovem branco e frágil. Para o tópico inexplorado, especialmente para o explícito, o Bom-Crioulo foi fonte de escândalo no momento de sua publicação.
O Missionário – Inglês de Sousa (1891)
O trabalho conta a paixão do Padre Antônio de Moraes pela Mameluca Clarinha, uma jovem que desperta o instinto de libido do protagonista e o coloca em situações de conflito contra sua situação de vida.
O Ateneu – Raul Pompeia (1888)
O Ateneu é o nome de um internato para meninos em que Sérgio estudou, narrador que narra sua vida adulta na vida adulta. A história gira em torno de questões como maturidade, amizades e inimizade, amor e violência. É um romance que possui características realistas e naturalistas.
Muitas foram obras do naturalismo brasileiro. Entre outros, pode-se citar histórias amazônicas, inglês de Sousa, Casa de Pensão, de Aluísio Azevedo e O Normalista, de Adolfo Caminha.
Quais são as Diferenças e Semelhanças do Realismo e Naturalismo no Brasil?
Tanto o naturalista quanto o realista tentam apresentar o mundo real como ele é. Para fazer isso, ele observa, analisa e registra o que o rodeia. A diferença entre o romance realista e o naturalista é a representação do mundo real:
Romantismo Naturalista: O homem é um animal instintivo, produto do meio social em que vive. O enredo se concentra em comunidades marginalizadas e a linguagem é mais objetiva e livre.
Romantismo realista: O homem enfrenta os conflitos existenciais que permeiam sua situação de vida. O enredo não precisa necessariamente estar à margem da sociedade, e a linguagem pode ser mais elaborada. Um bom exemplo de um romance realista é Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.